Ellie de The Last of Us foi consumida pela vingança? Uma análise completa sobre a personagem
Personagens e suas motivações ocultas
16 maio, 2025
Uma jornada marcada por traumas, perdas e escolhas impossíveis
No universo brutal e emocionalmente carregado de The Last of Us, poucos personagens despertam sentimentos tão intensos quanto Ellie. Introduzida como uma adolescente sarcástica e corajosa no primeiro jogo, ela retorna em The Last of Us Part II com uma profundidade emocional ainda maior — marcada por cicatrizes visíveis e invisíveis.
Mas a grande pergunta que permeia sua trajetória é: Ellie foi consumida pela vingança? Neste artigo, vamos analisar todas as fases da personagem, desde sua infância até sua jornada final, passando por suas decisões, perdas e o impacto psicológico da violência em um mundo onde a moralidade é distorcida pela sobrevivência.
Prepare-se para mergulhar em uma análise detalhada da alma da protagonista, onde cada decisão conta e cada trauma molda um novo pedaço de quem ela se tornou.
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O início da jornada: a origem de Ellie
Ellie antes da queda
Ellie nasceu em um mundo já devastado pelo surto do fungo Cordyceps. Órfã desde o nascimento, cresceu em uma zona de quarentena da FEDRA. Desde cedo, aprendeu que o mundo não era gentil e que confiar em alguém era um risco constante. Sua amizade com Riley, mostrada no DLC Left Behind, foi o primeiro grande marco de sua vida emocional — e também sua primeira perda significativa.
A infecção e o peso de ser a cura
Ellie é imune. Uma condição que poderia salvar a humanidade, mas que também a isolou ainda mais. Em The Last of Us Part I, sua jornada com Joel a transforma completamente. Ela encontra nele uma figura paterna, mas também carrega o peso de ter sido enganada quando Joel a salva dos Fireflies, impedindo que sua morte resulte em uma vacina.
A infecção foi apenas o começo. O verdadeiro fungo que começou a crescer em Ellie foi a culpa — e o medo de que tudo que ela viveu não tivesse significado.
A relação com Joel: amor, traição e o vazio
O vínculo que salva e destrói
Joel e Ellie constroem um dos relacionamentos mais complexos dos videogames. Ele a salva fisicamente, mas mente para ela sobre o porquê. E mesmo assim, Ellie tenta reconstruir essa confiança aos poucos.
Durante The Last of Us Part II, vemos que Ellie estava disposta a perdoá-lo. A cena final da fazenda, com Ellie dizendo “Eu não sei se posso perdoar você… mas eu quero tentar”, mostra que havia esperança. Mas essa esperança foi brutalmente interrompida.
A morte de Joel: o gatilho da fúria
A execução violenta de Joel por Abby, diante dos olhos de Ellie, muda tudo. O luto não tem tempo de cicatrizar. Não há justiça, apenas um eco de dor que começa a se transformar em ódio. É aqui que nasce a Ellie consumida pela vingança.
Ellie em Seattle: a espiral da violência
Quando Ellie parte para Seattle, o que a move não é apenas o desejo de justiça. É raiva. É desespero. E é culpa.
🔹 Seattle – Dia 1: o início da caçada
Um objetivo claro, um coração em ruínas
Ellie chega à cidade ao lado de Dina. Ela ainda está focada, com uma “missão” clara: encontrar Abby e seu grupo, os WLFs (Washington Liberation Front). Porém, mesmo nesse primeiro dia, já se percebe que Ellie está mais impulsiva do que estratégica.
Principais acontecimentos:
Exploração da cidade: Ellie e Dina avançam pelas ruas desertas e perigosas de Seattle, enfrentando infectados e membros dos WLF.
Morte de Nora: Ellie começa a mostrar sinais de que está disposta a ultrapassar limites. Quando encontra Nora (uma das integrantes do grupo de Abby), ela a tortura para obter informações — um ato que choca até ela mesma. O jogo faz questão de mostrar Ellie tremendo, suja de sangue, respirando com dificuldade.
“Diga onde ela está… ou eu faço você sofrer.” — Ellie, ao confrontar Nora
Esse é um dos primeiros pontos sem retorno da personagem. Ela já não está apenas se defendendo: está atacando, dominada pela raiva.
A sombra de Joel
O trauma da morte de Joel está fresco. A forma como ele foi executado — de joelhos, com um taco de golfe — ecoa em flashes e pesadelos. Seattle não é apenas uma cidade para Ellie. É um labirinto psicológico onde cada esquina traz à tona sua dor.
🔹 Seattle – Dia 2: a linha entre justiça e crueldade começa a se apagar
Ellie se distancia de si mesma
Neste ponto, Ellie já matou vários membros dos WLF. Ela está cada vez mais fria, mais distante, mais impulsiva. Dina, grávida e exausta, começa a mostrar preocupação com o comportamento da companheira.
Destaques do dia:
Encontro com os Serafitas (Scars): Um grupo religioso brutal, que marca sua presença através do fanatismo e da mutilação. Ellie presencia novas formas de violência e percebe que o mundo é ainda mais caótico do que ela imaginava.
Conflito com Jesse: O retorno de Jesse (amigo de Ellie e ex de Dina) traz uma voz da razão. Ele tenta resgatá-la da obsessão, mas Ellie continua determinada.
Neste segundo dia, a jornada já não parece mais sobre vingar Joel, mas sim sobre provar algo a si mesma. A dor deixou de ser uma ferida aberta e passou a ser combustível.
🔹 Seattle – Dia 3: a queda total
O ponto mais sombrio da jornada
É aqui que Ellie cruza a linha do irreversível. O jogo faz questão de confrontar o jogador com as consequências reais da jornada de Ellie.
Momentos-chave:
A morte de Mel: Ellie invade um esconderijo e, no meio de uma luta brutal, mata Owen e Mel. Ao descobrir que Mel estava grávida, Ellie entra em choque. A cena é silenciosa, claustrofóbica. Não há música. Não há catarse. Apenas arrependimento.
“Eu… não sabia…” — Ellie, ao perceber que matou uma mulher grávida
Esse momento é crucial. Ellie perde qualquer justificativa moral que ainda sustentava sua missão. Ela não está mais sendo a “heroína” da própria história — está se tornando o que mais temia: alguém como Abby.
O confronto com Abby: Finalmente, Abby a encontra. E o resultado é brutal. Jesse é morto de forma repentina, Tommy é baleado, Dina é quase executada. Ellie implora pela vida da amada. Abby, ironicamente, a poupa — e vai embora.
A análise psicológica: quem Ellie se torna em Seattle?
A Ellie do Dia 1 e a Ellie do Dia 3 não são mais a mesma
Durante os três dias em Seattle, Ellie passa por um processo de desumanização progressiva. Ela perde:
A empatia, ao torturar Nora;
O controle emocional, ao ver Jesse morrer sem reação;
A moralidade, ao matar Mel;
E a própria identidade, ao se tornar aquilo que mais odiava: uma assassina fria, sem propósito claro.
O jogo é brilhante ao usar as ações do jogador como mecanismo narrativo. Não assistimos passivamente à queda de Ellie. Nós participamos dela. Isso gera desconforto, e é proposital.
Os três dias como uma metáfora do luto
Segundo a psicologia, o luto possui várias fases: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Seattle representa essas fases para Ellie:
Dia 1 – Nega o trauma: “Vou matar Abby e tudo vai voltar ao normal.”
Dia 2 – Raiva e barganha: “Se eu matar os amigos dela, talvez eu sinta alívio.”
Dia 3 – Depressão: “O que estou fazendo? Quem eu sou agora?”
A aceitação só virá muito depois, e com um preço alto.
A virada de perspectiva: jogando com Abby
Após o terceiro dia, o jogo faz algo arriscado e poderoso: coloca o jogador no controle de Abby — a assassina de Joel.
Por que isso é relevante para a análise de Ellie?
Porque o jogo mostra que Abby também foi consumida pela vingança. E que Ellie está trilhando exatamente o mesmo caminho. Ao apresentar Abby como uma personagem humana, com traumas e perdas, a obra obriga o jogador (e Ellie) a confrontar uma dura verdade:
Não existe “lado certo” na guerra da vingança. Só existem sobreviventes traumatizados tentando justificar suas feridas.
Ellie em Seattle: o que realmente mudou?
Seattle é a cidade onde Ellie:
Matou inocentes e culpados;
Perdeu amigos;
Perdeu sua alma;
Foi confrontada com a própria hipocrisia;
E descobriu que matar Abby não traria Joel de volta.
Ela saiu de lá viva, mas não inteira.
Reflexão final: Seattle como espelho da dor
A jornada de Ellie em Seattle é, em última análise, uma descida ao inferno. Não apenas um inferno físico, cheio de infectados e facções armadas, mas um inferno interno, psicológico.
Ellie acreditava que vingança era justiça. Que destruir quem causou sua dor a libertaria dela. Mas descobriu que a violência apenas multiplica o sofrimento.
E é por isso que, mesmo depois de deixar Seattle, Ellie ainda não consegue viver em paz. A cidade deixou marcas invisíveis — mais profundas que qualquer cicatriz visível.
O retorno final: Ellie perdeu tudo
A escolha final em Santa Bárbara
Mesmo após reconstruir parte de sua vida, Ellie abandona tudo para caçar Abby mais uma vez. Ela perde Dina, perde a casa, e mais uma vez perde parte de si.
Na luta final, mesmo prestes a matar Abby, Ellie hesita. E então desiste. Uma das cenas mais simbólicas do jogo mostra Ellie tentando tocar violão — algo que simbolizava sua ligação com Joel — mas falhando por ter perdido dois dedos. Ela perdeu sua conexão com o passado. Perdeu tudo.
A vingança não a completou. Ela não trouxe justiça. Só trouxe silêncio e vazio.
Ellie foi consumida pela vingança?
Sim. Mas também foi mais do que isso.
Reduzir Ellie a uma simples vítima da vingança é ignorar a complexidade da personagem. Sim, ela foi consumida. Mas também lutou contra isso. Ela tentou se reconectar com sua humanidade. O problema é que, em um mundo onde a dor é constante, curar-se exige mais do que tempo. Exige perdão — principalmente de si mesma.
Os traumas que moldaram Ellie
Culpa, luto e sobrevivência
Ellie nunca teve tempo de processar seus traumas. A morte de Riley. A verdade sobre os Fireflies. A perda de Joel. A perda de Dina e JJ. O peso de ser imune e não ter salvado ninguém.
Ela se tornou uma máquina de sobrevivência. E isso a afastou daquilo que ainda era humano dentro dela.
A música como símbolo da alma
O violão é um dos maiores símbolos do jogo. Ensinado por Joel, representa memória, afeto e identidade. Ao perder a capacidade de tocar, Ellie perde mais do que um hobby — perde parte de sua alma. E essa perda é talvez mais dolorosa do que qualquer ferida física.
A resposta definitiva: valeu a pena?
O preço da vingança foi alto demais
Ellie perdeu amigos, família, amor, sanidade e sua própria identidade. A única coisa que ganhou foi a certeza de que a vingança não cura.
Se o objetivo era fazer justiça por Joel, ela falhou. Se o objetivo era se redimir por não ter dito que o perdoava… talvez tenha conseguido.
No fim, Ellie optou por não matar Abby. E isso, embora tardio, foi um ato de resistência contra o ciclo de ódio.
Conclusão: Ellie é uma das personagens mais humanas dos games
The Last of Us nunca foi uma história sobre salvar o mundo. É sobre o custo de tentar viver nele. Ellie é o espelho dessa realidade. Ela erra, sofre, se perde e tenta encontrar o caminho de volta. Sua jornada não é bonita. Mas é real.
Ellie foi, sim, consumida pela vingança. Mas também sobreviveu a ela. E em um mundo como o de The Last of Us, isso já é mais do que muitos conseguiram.
E você, acha que Ellie foi consumida pela vingança? Deixe seu comentário com sua interpretação da jornada dela. Compartilhe este artigo com seus amigos fãs de The Last of Us e vamos abrir esse debate juntos!