Introdução: Quando a dor psicológica vira protagonista
Você já parou para pensar como personagens de anime podem refletir as dores mais humanas que existem? Em Tokyo Ghoul, não estamos falando apenas de batalhas ou monstros, mas de traumas, identidades fragmentadas e perdas profundas. Neste artigo, vamos explorar a jornada de Ken Kaneki, protagonista da obra, à luz dos 5 estágios do luto propostos por Elisabeth Kübler-Ross — uma leitura intensa e reveladora sobre o que significa perder a si mesmo e, ainda assim, continuar.
Se você é fã de animes psicológicos ou se interessa por temas como trauma, identidade e saúde mental, prepare-se. Vamos destrinchar como Kaneki passa por cada fase do luto enquanto luta, literalmente, para sobreviver entre dois mundos: o dos humanos e o dos ghouls.
Mas antes, se você ainda não conhece essa obra incrível, que apesar de ter uma terceira temporada bem questionável, tem um mangá maravilhoso. Nós separamos um link com o primeiro volume da história do nosso Kaneki Ken. Clique aqui pra conhecer e se apaixonar.
A simbologia de Tokyo Ghoul: dor, identidade e rejeição
Metáforas viscerais em um mundo cruel
No universo de Tokyo Ghoul, os ghouls são seres que parecem humanos, mas precisam se alimentar de carne humana para sobreviver. Já o protagonista, Ken Kaneki, começa como humano, mas após um acidente e um transplante de órgãos, se transforma em algo híbrido — meio humano, meio ghoul.
Esse processo, além de físico, é profundamente psicológico e simbólico. Kaneki não apenas perde sua antiga vida: ele perde o direito de ser quem era. Como enfrentar a realidade de agora precisar matar para sobreviver? Como aceitar um novo “eu” quando tudo em você grita para rejeitá-lo?
A infância de Kaneki e a origem do trauma
Uma infância marcada por perdas e abusos emocionais
- Perdeu o pai aos 4 anos.
- Perdeu a mãe aos 10 anos.
- Cresceu com a influência de uma mãe que não sabia dizer “não”.
A mãe de Kaneki sofria de síndrome de burnout, um esgotamento extremo por trabalho, causado pelo abuso da própria irmã, que explorava sua boa vontade. Essa incapacidade de impor limites é um traço que Kaneki herdou, tornando-se alguém que prefere se machucar a machucar o outro.
Esse passado traumático o preparou para um futuro de dissociação: ele vive em conflito com a própria existência.
Transtorno Dissociativo de Identidade: Kaneki e seus “eus”
Kaneki desenvolve traços claros de transtorno dissociativo de identidade (TDI), condição que surge geralmente após traumas severos. Em vários momentos do anime, vemos diferentes personalidades surgindo, cada uma lidando com um tipo específico de dor.
Essas personalidades se manifestam como:
- Kaneki original: pacífico, sensível e idealista.
- Kaneki branco: frio, impiedoso, focado na sobrevivência.
- Haise Sasaki: gentil, educado, amnésico — uma fuga da realidade.
- Black Reaper: melancólico, sombrio, resignado.
Cada uma dessas versões representa um estágio psicológico da dor. E é justamente aí que os 5 estágios do luto entram em cena.
Os 5 estágios do luto na trajetória de Kaneki
A psiquiatra suíça Elisabeth Kübler-Ross propôs os 5 estágios do luto em seu livro “Sobre a Morte e o Morrer”, que, apesar de não serem cientificamente universais, são amplamente utilizados como base de compreensão emocional. Vamos ver como cada um se manifesta em Kaneki.
1. Negação – “Eu não sou isso”
No início, Kaneki nega sua nova identidade. Ele não consegue aceitar que agora precisa se alimentar de humanos. Se recusa a se integrar ao mundo ghoul e sente repulsa por si mesmo.
Mesmo após ser acolhido por um grupo de ghouls pacíficos (Anteiku), ele luta contra a realidade, tentando manter seu “eu humano” intacto. Mas quanto mais nega, mais sofre.
2. Raiva – “Por que isso aconteceu comigo?”
A negação dá lugar à raiva quando Kaneki é sequestrado e torturado brutalmente por Jason, um ghoul cruel. Esse evento destrói as últimas barreiras emocionais que Kaneki havia construído.
Nessa fase:
- Ele questiona o comportamento passivo da mãe, que morreu por não saber dizer “não”.
- Assume um comportamento frio e vingativo.
- Desperta sua persona sombria, tornando-se o “Kaneki Branco”.
A raiva é o estopim para a sua transformação.
3. Barganha – “Talvez, se eu for alguém melhor…”
Após ser gravemente ferido, Kaneki perde a memória e surge Haise Sasaki, um novo “eu”. Gentil, otimista, e tentando viver uma vida “normal”, ele aceita uma nova família e uma nova rotina como investigador.
Mas mesmo sem lembrar de tudo, ele é assombrado por ecos do passado. A barganha de Haise é clara: se ele for uma boa pessoa, talvez consiga viver em paz. Mas essa paz é ilusória, e as sombras sempre o perseguem.
4. Depressão – “Não adianta mais lutar”
Quando Haise volta a se lembrar de quem realmente é, ele entra na fase mais sombria: o Black Reaper.
Aqui, ele:
- Veste-se de preto.
- Torna-se frio e distante.
- Deseja a morte, em um estado de desespero silencioso.
É nesse momento que ele relembra os abusos da mãe — memórias reprimidas que vêm à tona com força devastadora. Mas a depressão, embora profunda, também é um prenúncio de mudança.
5. Aceitação – “Eu sou o que sou”
Com ajuda de seus amigos e principalmente de Touka, Kaneki finalmente aceita sua identidade híbrida. Ele deixa de se odiar e aprende a viver com suas escolhas e consequências.
A cena onde Kaneki caminha entre os corpos daqueles que matou, sem desviar o olhar, é um símbolo poderoso de aceitação. Ele encara a dor e a responsabilidade.
No final, ao abraçar sua filha, Kaneki mostra que há esperança, mesmo para quem esteve à beira do colapso.
Tokyo Ghoul como metáfora para a dor psíquica
A metamorfose de Kaneki e a influência de Franz Kafka
O autor de Tokyo Ghoul, Sui Ishida, se inspirou no livro A Metamorfose, de Franz Kafka. Assim como Gregor Samsa acorda transformado em um inseto e se preocupa apenas com como irá trabalhar, Kaneki acorda “ghoul” e tenta desesperadamente manter sua vida humana.
Ambos são tragédias existenciais, mostrando como o mundo pode ser cruel com quem já não se encaixa nele.
Memória, trauma e manipulação: o caso Kaneki
As memórias não são gravadores
Segundo a psicóloga Elizabeth Loftus, especialista em memórias falsas, as lembranças humanas são maleáveis, como uma página da Wikipédia — qualquer um pode editá-las, inclusive você mesmo.
Kaneki esqueceu os abusos da mãe. Criou versões de si que suprimem a dor. Isso é comum em traumas severos. A mente escolhe o que é possível suportar.
Os 5 estágios do luto são universais?
Não. As pesquisas mostram que nem todos passam pelos 5 estágios, e nem necessariamente na ordem exata. Além disso, fatores culturais influenciam muito na forma como o luto é vivido.
Em culturas onde a morte é celebrada, o impacto emocional pode ser diferente. Em outras, como no Japão retratado em Tokyo Ghoul, o sofrimento é muitas vezes internalizado e silencioso.
Conclusão: A dor de Kaneki é a dor de muitos
Ken Kaneki não é apenas um protagonista de anime. Ele é um espelho de pessoas reais que lidam com traumas profundos, perdas de identidade e rejeição. Sua trajetória é, sim, extrema, mas também é humana.
Ele nos mostra que:
- Negar a dor não impede que ela nos consuma.
- A raiva é um grito de socorro.
- Barganhar com a realidade não a muda.
- A depressão pode ser um fundo do poço necessário.
- E a aceitação… bem, ela pode ser libertadora.
E você, já passou por alguma mudança que te fez questionar quem você é?
👉 Comente aqui embaixo qual fase do Kaneki mais te marcou e como você vê essa jornada de autoconhecimento.
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